Gatti, a obra continua
“Tuas boas palavras não desaparecem, mas continuam no tempo para exemplo do que aqui ficam e te acompanham na viagem do além”. Tal certeza expressa no Talmud e legada aos pósteros muito bem pode ser aplicada a Ivan Carlos Gatti, falecido no último dia 30 de abril. Ele me levou para participar da classe contábil, na qual já estava inscrito, mas pouco relacionado.
À época, entre 1986 e 1989, foi presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC/RS). Sua atuação foi tão marcante que o tornou conhecido não apenas em nosso Estado, mas em todo o País, como um grande líder classista, que iniciou pela coordenação da 1ª Convenção dos Proprietários de Escritórios de Contabilidade, em 1976. A partir daquele ano, Gatti teve uma carreira ascendente, galgando vários postos de direção na área contábil, até chegar à presidência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), de 1990 a 1993, em cujo período fundou e presidiu a Fundação Brasileira de Contabilidade. Na entidade máxima dos contabilistas brasileiros, Ivan Carlos Gatti transferiu a sede para Brasília, promoveu o 1º Congresso Brasileiro de Contabilidade patrocinado pelo CFC, em Salvador, e foi um dos responsáveis por incrementar o intercâmbio da classe contábil brasileira com organismos internacionais.
Destacou-se, ainda, além da área contábil, como atleta, tendo sido jogador de futebol do Aimoré de São Leopoldo e do Renner, onde sagrou-se campeão gaúcho, em 1954, com seu colega Ênio Andrade, já falecido. Por esse e tantos outros motivos, nunca será tarde homenagear um cidadão, desportista e profissional.
Minha integração com a classe contábil, como já assinalei, devo a ele e foi tal que a representei na Constituinte e, por indicação dele, fui depois distinguido com vários títulos. Nossa homenagem a Ivan Gatti e que seu legado de homem de princípios e lutador incansável sirva de exemplo a todos nós.”
Victor Faccioni
Vice-presidente do TCE/RS
Brasil na Madrugada, 1° de maio de 2002
Ontem à tarde fui ao cemitério João XXIII somar meu imenso pesar ao da família e dos amigos do contabilista Ivan Gatti, falecido de problemas cardíacos na madrugada, após bem sucedida cirurgia ortopédica. E na companhia da família e desses amigos, uma legião, por sinal, acabei me lembrando dos quase 30 anos de convivência e amizade, durante os quais tive oportunidade ser testemunha privilegiada de uma vida excepcional. Realmente não sei por onde começar porque, em relação a Ivan Gatti, por mais que se diga, fica sempre tudo por se dizer. Como líder da classe, desempenhou papel fundamental no aprimoramento social, técnico e político da sua categoria, tanto em nível regional, presidente que foi das associações de classe e do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, tanto em nível nacional. presidente que foi também do Conselho Federal de Contabilidade.
Acompanhei o seu trabalho na construção do novo prédio e na tranferência da sede do Conselho Federal para Brasília. Foi perfeito, principalmente porque ele muito mais deu a estas causas do que delas obteve. Quando cumpriu seu último mandato, e com isso deu por terminada a sua missão, a categoria dos contabilistas assumira maioridade plena e tinha voz, como tem hoje, para ser ouvida nos mais altas instâncias de decisão do país. Contudo, esta magnífica folha de serviços que o engrandeceu politicamente não modificou o ser humano simples, afável, amoroso, capaz de despir a roupa do corpo para ajudar o amigo em dificuldades. Fui testemunha disso também, algumas vezes, desde que o conheci, no longínquo ano de 1974, quando em companhia do finado jornalista Tito Tajes, iniciamos o primeiro jornal de bairro profissional de Porto Alegre. Nesta ocasião, Gatti era membro da Associação dos Amigos Cristóvão Colombo e mesmo que ainda lutasse com dureza para construir materialmente o seu patrimônio, era pura doação pessoal nos esforços que fazia para engrandecer aquela comunidade.
Nos anos que se seguiam, a admiração pessoal e amizade se consolidaram pelas lições de solidariedade, integridade e amor ao próximo, tudo brotando espontaneamente da sua maneira de ser. Era um homem alegre, feliz, que fazia feliz quem com ele convivesse.
Como eu disse no início da manifestação de pesar, quando pessoas como Ivan Gatti partem da vida, por mais que se diga, tudo fica por se dizer. Só acrescento que foi um ser humano que valeu à pena neste planeta tão conturbado. Com profunda reverência à sua memória, o programa de hoje é dedicado a Ivan Gatti, contabilista, bom chefe de família, extraordinária criatura que, com amor, povoou o mundo de Deus.
Jayme Copstein
Caminho Traçado
O Jornal do CFC reproduz palavras do Contador Ivan Carlos Gatti contidas no relatório final de sua gestão na presidência do CFC:
“Assumi a Presidência do CFC, em janeiro de 1990, para realizar um “hino de amor”. Eu queria contribuir para que a profissão passasse a ser a número um deste País. Agora, encerrados os quatro anos de mandato, acredito que colaborei muito; não sonho mais sozinho e o Caminho do Contador do Ano 2000 está traçado. Preparei este relatório, que falará por si, não para justificar o realizado, mas, sim, para deixar parâmetros para as próximas administrações. Não fiz tudo, mas fiz tudo o que poderia ser feito.”
Brasília, 30/12/1993. Contador Ivan Carlos Gatti, Presidente do CFC.